No Dia Mundial da Saúde Mental, lembramos que cuidar da nossa mente é tão vital quanto cuidar do nosso corpo!
O exercício não é apenas benéfico para a saúde física, mas também para a saúde mental. Quando nos movimentamos, libertamos endorfinas que ajudam a aliviar o stress e melhorar o nosso humor. Aquela sensação de euforia pós-treino não é apenas uma ilusão – é uma realidade!
Além disso, o exercício promove uma sensação de realização e autoestima. Ao atingir metas de treino, construímos confiança em nós mesmos e enfrentamos desafios de forma mais resiliente.
O exercício regular também ajuda a melhorar o sono, a reduzir a ansiedade e a depressão, e aumentar a clareza mental!
Hoje, comprometam-se a cuidar da vossa saúde mental através da atividade física. Não importa se é uma caminhada relaxante, uma corrida revigorante, uma aula de ioga para acalmar a mente ou uma sessão intensa no ginásio – o importante é dar o primeiro passo em direção a uma mente mais saudável.
Autora: Maria João Heitor, médica psiquiatra
Em Portugal, cerca de 23% dos adultos (mais do que 1 em cada 5) sofrem anualmente perturbações de saúde mental. E há faixas etárias e grupos mais vulneráveis.
- 75% das doenças mentais começam, em todo o mundo, antes dos 25 anos;
- Os atletas de alta competição são um daqueles grupos.
Competir, vencer e proteger a saúde mental
A frase de Pierre de Coubertin, fundador dos jogos olímpicos da era moderna: “O importante não é vencer, mas competir.”, não se reflete nos atletas de alta competição.
- Estes atletas são treinados para vencer a todo o custo, para uma superação permanente.
- Isto envolve, muitas vezes, a perda, mesmo que temporariamente, da saúde e bem-estar, físico e mental.
É conhecido que os problemas de saúde mental podem atingir cerca de 45% dos atletas de alta competição. Esses problemas são, entre outros:
- Ansiedade;
- Depressão e risco de suicídio;
- Uso indevido de álcool e outras substâncias psicoativas;
- Adições comportamentais (como a do jogo);
- Perturbações do comportamento alimentar;
- Burnout.
A vida física e mental dos atletas
Há três grandes momentos na vida mental e física dos atletas:
- A pré-competição, com as relações no desporto, que envolvem o atleta, o treinador e a família;
- A competição, com um número elevado fatores que provocam stress (stressores) e uma gestão de expetativas complexa;
- A pós-competição ou pós-carreira, antecedida de um período de transição, com o vazio, as questões de identidade, a necessidade de se alterarem os estilos de vida e redirecionar as fontes de rendimento, a dificuldade em encontrar trabalho ou ficar no desemprego.
Os atuais contextos em que todos vivemos, pós-pandémicos, de guerra, crise energética e crise económica, influenciam e agravam, inevitavelmente, os fatores de risco inerentes a cada uma destas fases de vida dos atletas.
Desafios e oportunidades
Falar sobre saúde mental e enfrentar estigmas e medo de discriminação são enormes desafios.
- Se uma pessoa tiver, por exemplo, uma úlcera no estômago ou hipertensão arterial, provavelmente não tem problema em declará-lo. Se estiver com uma depressão, mais dificilmente o vai assumir. E as perturbações depressivas, de ansiedade e outras são doenças neurobiológicas, do cérebro, muito frequentes.
- Quando alguém sofre com sintomas do foro mental, tem medo que isso seja visto pelos outros como um ‘sinal de fraqueza’, receia repercussões negativas, e muitas vezes é a própria pessoa que tem dificuldade em aceitar o problema e tende a esconde-lo até da família. É o chamado autoestigma.
Estes tabus impedem a procura atempada de ajuda. Felizmente, já muitas e muitos atletas internacionais e nacionais ‘deram a cara’, encarando o tema com normalidade e assumindo o seu problema mental. Por outro lado, começam a desenhar-se redes de apoio profissional.
Face a estes desafios, há diversas oportunidades.
A primeira oportunidade é informar a sociedade civil, os profissionais, os atletas e todos os que diariamente lidam com eles, sobre o que é a saúde mental e a doença mental.
- Temos de promover uma maior literacia em saúde, no fundo, saber como informar e formar melhor.
A segunda oportunidade é identificar os fatores de proteção em cada uma das fases dos atletas.
- A manutenção de estilos de vida saudáveis, nem sempre presentes, de atividades de lazer, a gestão do descanso, o apoio sociofamiliar, o desenvolvimento de resiliência não apenas dirigida à performance, e olhar para o sofrimento psicológico e para a doença mental como mais uma oportunidade de aprendizagem, crescimento e desenvolvimento pessoal são alguns exemplos destes fatores protetores.
A terceira oportunidade passa por trazer para a sociedade civil, com um grande envolvimento dos media, as temáticas da atividade física, do desporto e da saúde, com ênfase na saúde mental e bem-estar, pautadas por objetivos, metas e políticas da Organização das Nações Unidas, da Organização Mundial de Saúde e Comissão Europeia. Durante a pandemia, o presidente do Royal College of Pediatrics and Child Health do Reino Unido disse aos membros do Parlamento: “Quando fechamos escolas, fechamos as vidas das crianças”. Referia-se não só ao isolamento e solidão, como também à redução da atividade física e do desporto, e aos problemas que daí podem advir a nível emocional, de obesidade infantil e muitos outros.
Todos temos de aprender a olhar para os atletas de alta competição como pessoas, com as suas complexidades, dificuldades e sucessos, e não apenas como supermáquinas de obter resultados.
Zelar pela saúde, mais do que uma tarefa diária, é um direito humano.
E porque não há saúde sem saúde mental, este é um campeonato que juntos vamos ter de ganhar!